Abcesso apical: Сausas e tratamento

Um abcesso apical é uma inflamação purulenta dos tecidos periapicais em resposta à fuga maciça de bactérias virulentas do sistema de canais radiculares de um dente.

A etiologia

Um abcesso apical agudo pode desenvolver-se primariamente como resultado de uma periodontite apical aguda ou como resultado da exacerbação de uma inflamação crónica na área periapical.

O fator etiológico é a invasão da microflora piogénica dos canais radiculares do dente para os tecidos periapicais inflamados (infeção extra-radicular). A microflora do abcesso apical é mista, predominando os bacilos anaeróbios Gram-negativos e os peptostreptococos.

As células efectoras predominantes num abcesso apical agudo são os leucócitos neutrófilos polimorfonucleares. Após a atividade fagocitária destas células e a sua morte, surge um grande número de elementos destruidores de tecidos (hidrolases e radicais de oxigénio), os macrófagos já não conseguem lidar com a limpeza e reparação das células. Ocorre a destruição do ligamento periodontal e do osso na zona do ápice da raiz.

A perda óssea é causada por osteoclastos activados e a reabsorção é acompanhada pela invasão de células imunitárias. Também pode ocorrer a invasão direta de microrganismos a partir dos canais radiculares, o que provoca gradualmente a destruição dos tecidos.

O abcesso apical crónico caracteriza-se por um processo inflamatório purulento de longa duração que drena através de uma passagem fistulosa. O processo inflamatório perfura o osso esponjoso e uma das lâminas corticais e cria uma passagem fistulosa drenante que permite a descarga constante do pus resultante.

Resultado do processo:

  1. Cura com eliminação da infeção no sistema de canais radiculares (remoção da polpa inviável e drenagem do abcesso);
  2. Cronificação do processo e formação de uma passagem fistulosa drenante;
  3. Destruição da placa cortical sobre o abcesso, penetração do exsudado purulento sob o periósteo do maxilar e formação de periostite odontogénica purulenta do maxilar;
  4. Propagação da inflamação purulenta através dos espaços fasciais da cabeça e do pescoço.

Classificação

  • Abcesso apical agudo;
  • Abcesso apical crónico com comunicação (fístula) com a cavidade oral;
  • Abcesso apical crónico com comunicação com a cavidade nasal;
  • Abcesso apical crónico com comunicação com o seio maxilar;
  • Abcesso apical crónico com comunicação cutânea.

Anatomia

Dependendo do fator etiológico, o dente afetado pode apresentar:

  • Uma cavidade cariosa profunda que penetra na polpa do dente;
  • As restaurações dentárias adjacentes ao tecido pulpar podem apresentar sinais de comprometimento do selamento (defeitos, fissuras na restauração, pigmentação na margem, cáries secundárias);
  • Sinais de traumatismo (fissuras, dentina lascada, parte da polpa exposta).

A polpa do dente está necrosada, de cor cinzento-amarelada ou cinzento-escura.

No abcesso apical agudo na área do ápice da raiz, é determinada uma área de destruição do ligamento periodontal e do osso alveolar, preenchida com exsudado purulento e rodeada por tecido de granulação fibrovascular.

Anatomia de um abcesso apical agudo
Anatomia de um abcesso apical agudo – Modelo 3D

Nos abcessos apicais crónicos, o processo penetra no osso esponjoso, na lâmina compacta, na mucosa ou na pele e forma-se uma passagem fistulosa. A abertura da passagem fistulosa é uma massa de tecido mole arredondada e convexa com um orifício no centro, a partir do qual é libertado exsudado purulento. A passagem fistulosa pode abrir-se tanto perto do foco de infeção como à distância deste: vestibular ou lingualmente na mucosa do processo alveolar, na gengiva anexa. Por vezes, a passagem fistulosa pode correr ao longo da raiz do dente e abrir-se no sulco gengival ou na zona de furca.

Neste caso, desenvolve-se uma bolsa falsa profunda e estreita, disfarçada de bolsa periodontal ou sintoma de uma fratura vertical da raiz. Também a abertura da passagem fistulosa pode abrir-se na cavidade nasal, no seio maxilar, na pele do rosto, no pescoço.

Internamente, a passagem fistulosa pode ser total ou parcialmente revestida por epitélio rodeado por tecido conjuntivo inflamado.

Anatomia de um abcesso apical crónico com comunicação (fístula) com a cavidade oral
Anatomia de um abcesso apical crónico com comunicação (fístula) com a cavidade oral – Modelo 3D

Diagnóstico

  • Recolha de queixas e anamnese;
  • Métodos clínicos: exame visual, percussão, palpação ao longo da prega de transição, sondagem periodontal, determinação da mobilidade dentária;
  • Termoprobe, electroodontodiagnóstico;
  • Radiografia (radiografia de contacto intra-oral, radiovisiografia, ortopantomografia, tomografia computorizada de feixe cónico): cavidade cariosa, restauração ou defeito traumático penetrando na câmara pulpar, identifica-se um centro de destruição óssea de forma redonda ou irregular no ápice da raiz. As radiografias bidimensionais podem mostrar apenas um alargamento do ligamento periodontal sem um lúmen à volta do ápice da raiz, se o processo afetar apenas o osso esponjoso sem envolvimento da placa cortical.
  • Traçar o trajeto da fístula: coloca-se um pino de guta-percha no orifício da fístula até se sentir resistência e, em seguida, realiza-se uma radiografia de contacto intra-oral. Ao traçar o percurso do pino de guta-percha, pode ser identificada a origem da passagem fistulosa.

Manifestações clínicas

Abcesso apical agudo

O paciente queixa-se de dor localizada na zona de um dos dentes, de intensidade moderada ou elevada, que aumenta ao morder o dente, uma sensação de pressão ou uma sensação de “dente crescido”. Visualmente, detecta-se no dente uma cavidade cariosa profunda, uma restauração ou um defeito traumático que penetra na câmara pulpar. A percussão do dente é fortemente dolorosa, a palpação da prega transicional também pode ser dolorosa, com o envolvimento da placa cortical pode haver inchaço e hiperemia da mucosa na projeção do ápice da raiz. A profundidade da sondagem periodontal está dentro dos limites normais (1-3 mm). A mobilidade do dente pode ser determinada. Não há reação à temperatura e a estímulos eléctricos. Além disso, podem ocorrer manifestações sistémicas do processo infecioso: aumento da temperatura corporal, aumento dos gânglios linfáticos da zona submandibular e do queixo, leucocitose.

Animação 3D – Abcesso apical agudo

Abcesso apical crónico

Nos abcessos apicais crónicos, o doente pode não referir quaisquer queixas ou pode indicar a presença de uma massa ou inchaço localizado na gengiva.

Um dente com uma cavidade cariosa profunda, restauração ou defeito traumático que penetra na câmara pulpar. A percussão do dente é normalmente indolor ou ligeiramente dolorosa. A palpação da prega transicional é indolor. Na membrana mucosa ou na pele é determinada pela abertura da passagem fistulosa, da qual é libertado exsudado purulento. Em caso de obstrução da passagem fistulosa, pode desenvolver-se um inchaço local dos tecidos moles.

Animação 3D – Abcesso apical crónico

Tratamento de um abcesso apical

O tratamento endodôntico do dente é efectuado: extirpação da polpa não viável ou remoção do material de obturação antigo dos canais radiculares, tratamento mecânico e irrigação dos canais radiculares. Na presença de exsudado nos canais radiculares, passagem fistulosa, recomenda-se a utilização de acessórios intracanais temporários. A drenagem do exsudado purulento é efectuada através dos canais radiculares ou através da placa cortical da mandíbula na projeção da lesão. Posteriormente, é efectuada uma obturação hermética dos canais radiculares com a subsequente restauração do dente.

Em caso de dificuldade de acesso à fonte de infeção, para além do tratamento endodôntico conservador, podem ser utilizados métodos microcirúrgicos (curetagem perirradicular, ressecção da ponta da raiz com obturação retrógrada, amputação da raiz do dente) e reimplantação intencional.

Se o prognóstico do tratamento endodôntico não for satisfatório, o dente deve ser extraído.

A profilaxia antibiótica para o tratamento endodôntico não cirúrgico e cirúrgico é efectuada nos seguintes grupos de pacientes:

  • Pacientes submetidos a tratamento com bifosfonatos intravenosos (cirurgia periapical);
  • Doentes com risco de endocardite infecciosa (doença cardíaca congénita complexa, substituição de válvula cardíaca protésica, história de endocardite infecciosa);
  • Doenças de imunodeficiência (leucemia, VIH/SIDA, insuficiência renal terminal, diálise, defeitos genéticos hereditários do sistema imunitário, diabetes mellitus não controlada, quimioterapia, toma de medicamentos imunossupressores ou esteróides após transplante);
  • Pacientes após endoprótese articular durante os primeiros 3 meses após a cirurgia;
  • Pacientes submetidos a radioterapia craniana.

FAQ

1. O que é um abcesso apical?

Um abcesso apical é uma inflamação purulenta dos tecidos à volta do ápice da raiz de um dente, resultante de uma infeção dos canais radiculares do dente.

2. Que sintomas são caraterísticos de um abcesso apical?

Dor localizada na zona de um dos dentes, de intensidade média ou elevada, que se intensifica ao morder o dente causador, sensação de pressão ou sensação de “dente crescido”, podendo também ocorrer inchaço e hiperemia da mucosa na projeção do ápice da raiz do dente, aumento da temperatura corporal, mal-estar geral, aparecimento de uma fístula com secreção purulenta.

3. Como é que um abcesso apical é tratado?

O tratamento inclui o tratamento mecânico e antissético dos canais radiculares, a drenagem do abcesso, a obturação temporária até a exsudação parar, seguida da obturação do canal radicular. Se o prognóstico do tratamento endodôntico ou da restauração não for satisfatório, pode ser necessária a extração do dente.

4. Que complicações podem ocorrer se não fores tratado?

A infeção pode propagar-se aos tecidos vizinhos, causando periostite, osteomielite, abcesso, flegmão, mediastinite e sépsis, exigindo intervenção médica urgente.

Lista de fontes

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Catálogo VOKA.

https://catalog.voka.io/

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Torabinejad, M., Fouad, A., & Shabahang, S. (2020). Endodontics: Principles and Practice. Elsevier.

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